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A mostrar mensagens de 2010
Uma hipótese A alegria é um catalisador de uma experiência científica; a tristeza, um inibidor. A tristeza encolhe; como pode um homem triste descobrir algo? Só quem é alegre arrisca. A tristeza é anticientífica. Gonçalo M. Tavares em Breves Notas sobre Ciência  Desculpem-me a "inundação" Tavariana, mas este é, sem dúvida, um dos grandes escritores portugueses e este Breves Notas sobre Ciência é absolutamente delicioso e indispensável a quem procura investigar como forma de vida...
Breves notas sobre a ciência... Tédio e conclusões É o tédio. Ou então, o outro elemento. Jorge Luís Borges afirmou que só se considera um texto literário terminado e definitivo por duas ordens de razões: cansaço ou fé religiosa. Assim também nas experiências científicas. Gonçalo M. Tavares 
O medo Um homem que tinha muito medo de todos os animais que rastejavam, decidiu (por fim) ir viver para uma montanha muito alta. Gonçalo M. Tavares, em O Senhor Brecht
Poesia Apetece-me poesia. Trincar palavras. Inspirar exclamações. Libertar vírgulas e pontos finais. Apetecem-me reticências. Frases que não rimam. Metáforas inalcançáveis. Amores sofridos. Apetecem-me mentiras. Linhas faz-de-conta. Palavras sinónimas. Sonetos desengonçados. Apetece-me baloiçar. Letras espalhadas ao vento. Sentimentos que fingem que são. Querer ser verdadeiro. Apetece-me imaginar. Fugir do mundo. Cavalgar versos. Escrever quadras falsas. Forçar o sentir. Acreditar de novo. Que me apetece poesia.
Jardim Gatos. Gatos bonitos. Anafados. Pêlo brilhante. Olhos fixos. Cinza, preto, branco, malhado. E pássaros. Melros, piscos. Esventrados. Decapitados. Mortos. Sem penas. Sem pio. Bicos laranja numa mancha assimétrica de preto e vermelho. Um rato. Grande, cinzento, imundo. Jaz no alcatrão e funde-se já com ele. Como um desenho de linhas. Um contorno. Como algo que nunca foi. Como uma representação de nada. Uma coisa inexistente. Árvore. E árvores. Uma árvore só. Altiva. longe do chão. Afastada da vida. Dos animais. Das intenções. Das tentativas. Do mundo real. Uma árvore. Que vive de pé. Chuva de pétalas. Rosa e branco sobre o jardim. Rosa e branco sobre os gatos, os pássaros, o rato. Manto de branco e rosa. De beleza, de não-vida, de altivez, de distância, de magia, de encobrimento, de sonho. De vazio. De nada.
A minha rua A minha rua é feita de nada. Candeeiros escuros. Casas fantasma. Ar rarefeito. A minha rua é plena de vazio. Passeios desertos. Árvores ocas. Céu silencioso. A minha rua é debruada a morte. Frutos caídos. Cães inexistentes. Lixo putrefacto. A minha rua é imune à esperança. Quintais estéreis. Alcatrão latejante. Persianas corridas.
Adiamento Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro... Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. Só depois de amanhã... Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... Depo