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A mostrar mensagens de 2008
Adiamento Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,  O sono da minha vida real, intercalado,  O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro... Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. Só depois de amanhã... Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... Depo...
Cântico Negro "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veia...
Alma (...)  e a gente a acreditar embora saibamos que não é possível, nunca foi possível e no entanto a recebermos a alma que o padre nos distribuiu a garantir que nossa  - Toma a tua alma minha filha (ponhamos que filha) e a gente não com ela num cabaz visto que a alma no Céu e portanto não nossa (mal ma distribuiu roubou-ma fazendo-a erguer-se onde não a logro alcançar e não a logrando alcançar pertence ao padre ou a Deus não a mim o que me pertence são os garfos de que me sirvo e as galinhas que como, verdadeiras e portanto sem alma, não me engane senhor e o padre com dó da minha ignorância seguro do divino Amor e da divina Bondade (...) António Lobo Antunes, O meu nome é Legião , pág.297
O fado não é mau Ai tristeza eu jurei por nunca mais cantar o fado Foi por amor que o calei por amor ao meu namorado O fado é mau corrompe a alma com demónios, manjericos, Santo Antónios amores vagos e episódios de faca e alguidar ainda para mais é um negócio de direita que esta malta aproveita para se vangloriar fica sentada no teu cantinho!" - diz-me assim, com carinho, meu amor, para não cantar Meu amor, mas o destino não se roga e fez ouvidos moucos, ao que eu fiz jurar, Aqui me tens a confessar: f oi apenas o destino que é cruel e pequenino e nos quis vir separar... Ai tristeza, podem ver quebrada aqui já a promessa e esta voz canta a doer sem fado nem amor, que resta? O fado não é mau não é um crime ou um defeito é um emaranhado de cordões que nos entrelaça o peito e precisa de ser solto corre o risco de sufoco quem prende o fado na voz e anda ali com aqueles nós a apertarem na garganta é mais rico aquele que o canta, pobre, quem lhe dá prisões Tu e eu não somos dois meu amo...
Gatos... a impressão que um gato e gato algum, o encolher das sombras que é a mesma coisa visto que nunca entendi se os gatos existem ou não passam de condensações do escuro a detalharem-nos numa curiosidade preguiçosa (...) António Lobo Antunes em O meu nome é Legião, pág.263
Investigar literatura II "(...) A cor não me soube a cor. Os meus olhos sentiram-na, não vendo-a , mas tacteando-a . Sim, a sensação que essa cor que eu vira me transmitiu ao cérebro foi uma sensação de tacto - olhá-la, era como se tacteássemos qualquer coisa viscosa." Mário de Sá Carneiro, em A estranha morte do professor Antena
Viagem pelo universo Hoje vou pegar no carro e vou até à rua das estrelas, onde  a minha irmã vai estar à minha espera, de malas e bagagens.  Depois trago-a para a supernova que é a nossa casa, na cidade da chuva.
101 Coisas para fazer em 1001 dias (fim de prazo a 21 de Abril de 2011) 1. Ir a Barcelona (x2) 2. Visitar Oxford 3. Ter a minha casa (contigo) 4. Passar uns dias no Gerês 5. Passear com a Sofia 6. Levar a minha irmã ao Gerês 7. Levar a minha irmã a acampar 8. Andar de comboio com a minha irmã 9. Aprender uma língua nova 10. Comprar livros originais de autores de língua inglesa que gosto (3/3) 11. Ler García Marquez em castelhano 12. Escrever um conto para a Ficções 13. Concorrer a um concurso de literatura 14. Ler o resto da obra literária do García Marquez (2/10) 15. Ler o resto da obra literária do Lobo Antunes (3/17) 16. Ir ao teatro (7/20) 17. Ver concertos de música (8/10) 18. Ir à Festa da Alegria! 19. Voltar ao Avante! 20. Adoptar uma tartaruga na Costa Rica 21. Ajudar a minha irmã a escolher um curso na universidade 22. Fazer um tapete para a minha casa 23. Aprender a cozinhar um prato difícil de bacalhau no forno 24. Fazer um curso de estatística 25. Aprender programa...
Poemas Verdes Diz o meu poeta que os poemas amadurecem... Como a fruta? Como as flores? Como o vinho? Como os amores? Assumo que os poemas amadurecem. Em quanto tempo? E em que idade? A idade do poeta? A idade do poema? A idade da poesia? A idade da literatura? Os meus poemas não amadurecem. São verdes. Eternamente verdes. Alguns talvez cheguem a ser verde-claro, verde-erva, verde-limão. Mas nunca maduros. Nunca saborosos. Nunca florescidos. Nunca encorpados. Nunca cúmplices. Sempre numa espécie de quase ser. Sempre como uma verde esperança de alimento, de beleza, de embriaguez, de sentimento. Sempre uma promessa. Uma grande promessa... Digo dos meus poemas, como o meu poeta diz de mim.
Desafio Regresso em resposta ao desafio da Loopy. Assim sendo, aqui está a minha selecção de filmes que, nas palavras da Loopy, mudaram estranhamente a minha vida... Arizona Dream Os motivos são tantos que é difícil explicar este filme. É, sem dúvida, o primeiro que me ocorre. É um filme que junta o meu actor favorito com uma das minhas actrizes favoritas, com um dos meus realizadores favoritos e com o meu animal favorito. É ainda o primeiro filme que me levou a fazer uma "noitada" no início da adolescência... Começou perto das 2 horas da manhã e exigiu um esforço tremendo conseguir ficar acordada até essa hora com 12 anos... É um filme indescritível, como qualquer um dos de Kusturica... Dead Poets Society Este filme dispensa apresentações... Não podia faltar porque ainda hoje é um dos meus filmes favoritos... Edward ScissorHands Acho que cheguei a saber a grande maioria das deixas neste filme. Absolutamente extraordinário, o filme do Burton que me abriu todo um mundo descon...