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A mostrar mensagens de 2009
E eis que... Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. José Saramago, Caim (pp. 14-15)
Mónica "Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da "Liga Internacional das Mulheres Inúteis", ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedade musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria. (...) De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade. (...) É por isso que Mónica, tendo renunciado à santidade, se dedica com grande dinamismo a obras de caridade. Ela faz casacos de tricot
25 de Abril Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo Sophia de Mello Breyner
Amanhã vou ser feliz. Amanhã vou tirar fotografias à minha cidade. Vou conseguir mostrá-la através dos meus olhos. Vou pegar-te na mão e vamos passear. Eu vou ser eu em férias e tu vais ser perfeito como sempre. Vou fazer as minhas coisas. Sem mais. Só coisas minhas sem importância nem magia. Coisas de todos os dias, sempre para fazer amanhã. E amanhã vou usar as minhas lentes de ver o mundo. E vou parecer feliz nas fotografias. E vou estar no sítio onde estou, completamente. Amanhã vou estar e ser livre de tudo. E vou poder pensar e sorrir e brincar e acreditar em coisas de crianças outra vez. E vou ser outra vez como a Jo do Mulherzinhas e vou ler o Ivanhoe para cima da árvore que já não existe enquanto como maçãs vermelhas e me divirto com o som das dentadas. Amanhã vai chover torrencialmente e eu não me vou importar. E vou correr até ao farol e imaginar as aventuras dos cinco entre os barcos do mar da Póvoa. Amanhã vou saber de novo o poema do António Nobre que fala dos pesca
professores bobos (a hipótese da higiene) analfabetos leucocitos que fagocitam imaginam que o seu serviço salva quando envilece passam nos corredores das artérias que circundam ventrículos, coraçom e nem cumprimentam amuados os vírus que procuram está-lhes no cérebro bobos de baba ao canto da barba ou sem barba aprenderam no código genético consignas de sobrevivência e lucro bobos envenenando um corpo moribundo adormecem deliciados no gás que tudo anestesia os bobos som analfabetos especializados ao serviço do veneno que engorda mais bobos Carlos Quiroga
por vezes, excurso pela minha fé por vezes, excurso pela minha fé, deus obedece-me com dedicação, quando alimento os parasitas dos meus sonhos para sabotar a realidade acorro aos pássaros desligados ao vento não caio, entre os pássaros bichos irregulares valter hugo mãe
Dia do pai atrasado... Um dia do pai atrasado, nas palavras lindas da mãe... Ao meu pai... Queria falar-te por um só momento, mas há muito se esgotou o nosso tempo. Ainda no teu copo metade da vida por beber E já o fim…o completo escurecer! Não é muito o que tenho a dizer. Só queria poder contar-te do azul deste céu. Contar-te do mar, destes campos verdes, das montanhas, dos regatos, para tu saberes como aprendi a ver pelo teu olhar. Sabes, às vezes ainda peço às borboletas as asas emprestadas para poder ir contar os segredos às flores. (lembras?) Ainda sei o sabor das amoras dos silvados. E leio sem ninguém ver, histórias de príncipes encantados. Só não aprendi a coragem, a ousadia de ser eu, antes de todos os outros. Compreendo agora que não podias ensinar-me o que tu próprio não sabias. E essa tua, minha cobardia que às vezes tanto me dói, faz de ti, o que sempre foste: o meu Pai, o meu Herói… Lídia Borges
Hallelujah Se eu pudesse morar numa música, morava aqui... Now I've heard there was a secret chord That David played, and it pleased the Lord But you don't really care for music, do you? It goes like this The fourth, the fifth The minor fall, the major lift The baffled king composing Hallelujah Hallelujah, Hallelujah Hallelujah, Hallelujah Your faith was strong but you needed proof You saw her bathing on the roof Her beauty and the moonlight overthrew you She tied you To a kitchen chair She broke your throne, and she cut your hair And from your lips she drew the Hallelujah You say I took the name in vain I don't even know the name But if I did, well really, what's it to you? There's a blaze of light In every word It doesn't matter which you heard The holy or the broken Hallelujah Hallelujah, Hallelujah Hallelujah, Hallelujah I did my best, it wasn't much I couldn't feel, so I tried to touch I've told the truth, I didn&#
Primavera Chegaste. Trazias no rosto Manhãs de Primavera, Nos olhos Brisas suaves, Nos dedos Raios de Sol! E eu, árvore só, Segurei-te as mãos (Ou foste tu a segurar as minhas?) E uma festa de seiva jorrou. Enchi-me de folhas verdes, De flores, De ninhos à espera… Quando acordei Era Inverno. Chovia! Não tinha chegado, ainda A Primavera! Lídia Borges Com certeza haverá, em breve, mais para saborear, aqui ...
E apetece-me ainda... Sonata de Outono Inverno não ainda mas Outono Na sonata que bate no meu peito Poeta distraído, cão sem dono Até na própria cama em que me deito Inverno não ainda mas Outono Na sonata que bate no meu peito Acordar é a forma de ter sonho O presente o pretérito imperfeito Mesmo eu de mim próprio me abandono Se o rigor que me devo não respeito Acordar é a forma de ter sonho O presente o pretérito imperfeito Morro de pé Mas morro devagar A vida é afinal o meu lugar E só acaba quando eu quiser Não me deixo ficar Não pode ser Peço meças ao Sol, ao céu, ao mar Pois viver é também acontecer A vida é afinal o meu lugar E só acaba quando eu quiser José Carlos Ary Dos Santos
E apetece-me... Tourada Não importa sol ou sombra camarotes ou barreiras toureamos ombro a ombro as feras. Ninguém nos leva ao engano toureamos mano a mano só nos podem causar dano de esperas. Entram guizos chocas e capotes e mantilhas pretas entram espadas chifres e derrotes e alguns poetas entram bravos cravos e dichotes porque tudo o mais são tretas. Entram vacas depois dos forcados que não pegam nada. Soam brados e olés dos nabos que não pagam nada e só ficam os peões de brega cuja profissão não pega. Com bandarilhas de esperança afugentamos a fera estamos na praça da Primavera. Nós vamos pegar o mundo pelos cornos da desgraça e fazermos da tristeza graça. Entram velhas doidas e turistas entram excursões entram benefícios e cronistas entram aldrabões entram marialvas e coristas entram galifões de crista. Entram cavaleiros à garupa do seu heroísmo entra aquela música maluca do passodoblismo entra a aficionada e a caduca mais o snobismo e cismo... Entram empresários moralistas entram
Apetece-me... Desfolhada Corpo de linho Lábios de mosto Meu corpo lindo Meu fogo posto. Eira de milho Luar de agosto Quem faz um filho Fá-lo por gosto. É milho-rei Milho vermelho Cravo de carne Bago de amor Filho de um rei Que sendo velho Volta a nascer Quando há calor. Minha palavra dita à luz do sol nascente Meu madrigal de madrugada Amor amor amor amor amor presente Em cada espiga desfolhada. Minha raiz de pinho verde Meu céu azul tocando a serra Oh minha água e minha sede Oh mar ao sul da minha terra. É trigo loiro É além Tejo O meu país Neste momento O sol o queima O vento o beija Seara louca em movimento. Minha palavra dita à luz do sol nascente Meu madrigal de madrugada Amor amor amor amor amor presente Em cada espiga desfolhada. Olhos de amêndoa Cisterna escura Onde se alpendra A desventura. Moira escondida Moira encantada Lenda perdida Lenda encontrada. Oh minha terra Minha aventura Casca de noz Desamparada. Oh minha terra Minha lonjura Por mim perdida Por mim achada. Ary dos
Sinais Houve um tempo que não encontro. Que não mudo. Perdi as vírgulas que ligavam os pensamentos, os travessões que o interrompiam, os pontos que lhe davam rumo. Havia um caminho claro na pontuação que me pertencia. Nos sinais. Agora há apenas letras soltas, que tenho perdidas. Por vezes frases errantes (erradas?). Enganadas. Que se esfumam à luz do dia.  Há ainda palavras inteiras, bonitas... Que não cabem na frase. No pensamento. Como promessas. De novo as promessas. Do que serei.  Não.  Do que seria. Se fosse capaz de reaprender a pontuação que doma as letras, seria capaz de mudar o tempo. Do verbo.