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A mostrar mensagens de 2004
Natal " ...há um só banquete que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente: é a ceia de véspera de Natal nas nossas terras do Minho..." Ramalho Ortigão
Palavras As palavras deste baú t?m-me escapado. N?o sei porqu?... Por vezes sinto que n?o tenho nada a acrescentar ao que é dito, tenho a sensaç?o que o que é dito aqui com tanto sentimento n?o me diz respeito. Mas vou continuar a acrescentar aqui algumas palavras. Porque me sinto bem e gosto colaborar para que este baú nunca tenha fundo.
Sr. Pessoa: ISTO Dizem que finjo ou minto Tudo o que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço, Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! Fernando Pessoa
Montanhas Das nublosas em que te emaranhas Levanta-te, alma, e dize-me, afinal, Qual é, na natureza espiritual, A significação dessas montanhas! Quem não vê nas graníticas entranhas A subjectividade ascensional Paralisada e estrangulada, mal Quis erguer-se a cumíadas tamanhas?! Ah! Nesse anelo trágico de altura Não serão as montanhas, porventura, Estacionadas, íngremes, assim, Por um abortamento de mecânica, A representação ainda inorgânica De tudo aquilo que parou em mim?! Augusto dos Anjos
Retrato do poeta Retrato do poeta Porém, se por alguém não sou ninguém Se canto e digo Flor, canção, amigo A mim o devo A mim e a mais a quem Floriu, nasceu, cresceu, lutou, comigo. Homem que vive só, não vive bem. Morto que morre só, é negativo. Morrer é separar-se de ninguém E contudo, com todos ficar vivo Nado-vivo da morte É isso, é isso Uma espécie de forno, de bigorna De corno morredoiro, que transforma Em fusão, o metal do compromisso Forjar o conteúdo pela forma Marrar até morrer E dar por isso . Ary dos Santos
Um domingo de outono Cogumelos de pedra nasciam da areia. As ondas obrigavam as jogas a ranger e a chuva regava pensamentos. O vento levava fragmentos do mundo consigo.
Fascinação Os sonhos mais lindos, sonhei, De quimeras mil um castelo, ergui, E no teu olhar, tonto de emoção, Com sofreguidão, mil venturas previ... O teu corpo é luz, sedução, Poema divino, cheio de esplendor, Teu sorriso, prende, inebria, entontece, És fascinação.... Amor! Elis Regina
Hoje tenho Oito Anos Por que você é Flamengo E meu pai Botafogo O que significa "Impávido colosso"? Por que os ossos doem enquanto a gente dorme Por que os dentes caem Por onde os filhos saem Por que os dedos murcham quando estou no banho Por que as ruas enchem quando está chovendo Quanto é mil trilhões vezes infinito Quem é Jesus Cristo Onde estão meus primos Well, well, well Gabriel... Por que o fogo queima Por que a lua é branca Por que a terra roda Por que deitar agora Por que as cobras matam Por que o vidro embaça Por que você se pinta Por que o tempo passa Por que que a gente espirra Por que as unhas crescem Por que o sangue corre Por que que a gente morre Do que é feita a nuvem Do que é feita a neve Como é que se escreve Réveillon Adriana Calcanhoto
Três sonetos de Deus ausente - 3 Porque Deus, se existisse, era o azul mais azul, a infância que não acaba. Era pai, colo, primavera, mil vezes raiar a mesma madrugada. E no desespero de um fim de tarde, haveria de aspergir sobre nós o seu olhar de infinita bondade, o calor do gesto, o cristal da voz. Tudo, tudo, outra vez seria novo, eterno mesmo só por um minuto: água de lume mais rosa do povo, voz, viagem, Penélope, Ulisses, som de piano, flauta, flor e fruto. Gostava tanto que Tu existisses! José Carlos de Vasconcelos, em Repórter do Coração
Três sonetos de Deus ausente - 2 Gostava tanto que Deus existisse! Como eu havia de ser diferente, pior ou melhor não sei, se o visse, na manhã de neblina persistente, a apanhar conchinhas brancas na praia, como quem apanha nuvens no céu. Seria menina e teria a saia azul, curta, talvez de chita; eu procuraria ajudá-la a encontrar a conchinha mais bonita, depois de ver a espuma das ondas e o ar a bailar como grandes bailarinos. E seríamos felizes os dois, pois ficaríamos sempre meninos. José Carlos de Vasconcelos, em Repórter do Coração
Três sonetos de Deus ausente - 1 Gostava tanto que Deus existisse! Como eu havia de ser diferente, pior ou melhor não sei, se o visse caminhando, humano, entre a gente que vai prò trabalho de madrugada tão pobre, suburbana, gente triste como ela só, e tão desamparada, que sofre, sofre tanto, mas resiste, e regressa a casa noite fechada, sem tempo para os filhos, o amor, nada, nada, semana após semana, gente humilhada, gente perseguida. E Deus ausente, seja onde for, todo o mês, todo o ano, toda a vida. José Carlos de Vasconcelos, em Repórter do Coração
Palavras (talvez) de saudade... Não sei o mundo que és. Não conheço o que trazes, o que tens. Sei apenas que no teu olhar escondes ondas do mar, plantas do bosque... Uma vida que não sei e não nomeio. Para mim, chega a areia do teu corpo, em que me perco, chega a fonte de ti, em que me sacio. O que eu sei me basta. Mesmo quando o que sei é nada.
Póvoa de Varzim Depois de quinze dias passados na Póvoa de Varzim, regresso finalmente a Braga. Para lembrar, fica o prazer indescrití­vel de ouvir o poema seguinte recitado por Aurelino Costa... Lusitânia no Bairro Latino , por António Nobre "2. Georges! anda ver meu paí­s de Marinheiros, O meu paí­s das naus, de esquadras e de frotas! Oh as lanchas dos poveiros A saí­rem a barra, entre ondas e gaivotas! Que estranho é! Fincam o remo na água, até que o remo torça, À espera da maré, Que não tarda hi, avista-se lá fora! E quando a onda vem, fincando-o a toda a força, Clamam todas à uma: «Agora! agora! agora! E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo (Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar...) Que vista admirável! Que lindo! Que lindo! Içam a vela, quando já têm mar: Dá-lhes o Vento e todas, à porfia, Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas, Rosário de velas, que o vento desfia, A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas : Senhora Nagonia! Olha, acolá! Que linda vai com seu erro de
Voley: "O jogo do voleibol foi introduzido por William G. Morgan, em 1896, na cidade norte-americana de Springfield, no Massachusetts. Desde então, tornou-se um dos desportos colectivos mais apreciados e praticados em todo o mundo, com competições oficiais a serem disputadas em inúmeros países." A palavra voley é, provavelmente, um diminutivo de voleibol. Mais um serviço público com o apoio da Diciopédia
Nevoeiro (ou Nota ao Contexto Político Actual) "Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer - Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece a alma que tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É a hora!" Fernando Pessoa em A Mensagem
Poema Depus a máscara e vi-me ao espelho. - Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada... É essa a vantagem de saber tirar a máscara. É-se sempre a criança, O passado que foi A criança. Depus a máscara, e tornei a pô-la. Assim é melhor, Assim sem a máscara. E volto à personalidade como a um términus de linha. Álvaro de Campos
Sophia (1919 - 2004) Naquele Tempo Sob o caramachão de glicínia lilaz As abelhas e eu Tontas de perfume Lá no alto as abelhas Doiradas e pequenas Não se ocupavam de mim Iam de flor em flor E cá em baixo eu Sentada no banco de azulejos Entre penumbra e luz Flor e perfume Tão ávida como as abelhas Sophia de Mello Breyner Andresen , Abril de 98
O me! O life! O Me! O life!... of the questions of these recurring; Of the endless trains of the faithless - of cities fill’d with the foolish; Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish than I, and who more faithless?) Of eyes that vainly crave the light - of the objects mean - of the struggle ever renew’d; Of the poor results of all - of the plodding and sordid crowds I see around me; Of the empty and useless years of the rest - with the rest me intertwined; The question, O me! so sad, recurring - What good amid these, O me, O life? Answer That you are here - that life exists, and identity; That the powerful play goes on, and you will contribute a verse. Walt Whitman, Leaves of Grass
Vozes Sempre que descubro que concordo comigo mesmo a cem por cento, não escrevo uma história; escrevo uma carta zangada a dizer ao meu governo o que é que deve fazer (se bem que não me ouçam). Mas se descubro mais do que uma razão dentro de mim, mais do que uma voz, às vezes acontece que as diferentes vozes se desenvolvem e transformam em personagens e, nessa altura, sei que uma história está em gestação dentro de mim. Amos Oz
Sonho O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos da esperança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Os beijos merecidos da Verdade. Fernando Pessoa
Junho Cerejas, sol, calor, luz, noite, estrelas, brisa, amigos, risos, paz, alegria, gelados, nuvens, algodão, algodão doce, festas populares, São João, balões, fogo de artifício, incêndio, farturas, sardinhas assadas, multidões, seis, meio, Verão, mosquitos, melgas, descanso, ventoinhas, barulho...
Para ti "E como de costume vais passar e perguntar-me como estão os teus olhos, hoje? Sorrirei, e como acontece com a flor que por um triz se ergue no pântano, tentarei tocar-te pela primeira vez, rendido à evidência da tua grandeza. Se não me reconheceres no dia em que passar por ti, aperta as tuas mãos nas minhas, para que fiquem juntas. Se vieres de corpo autêntico não ousarei tocar-te. Não pode ser de outro modo: que o corpo permitisse o corpo. Também agora os olhos impedem-me de avançar. Não recordo as palavras. Os teus olhos sinceros. Há; nos teus olhos uma grandeza que não sei. Quem sabe apenas uma falsidade, como tantas outras? Não, porque os teus olhos permanecem aí, por entre o movimento, com o tempo só para eles. Peço-te que passes outra vez - isso agrada-me - e que tragas os olhos sem regresso. Traz também a noite, para nos debruçarmos para o interior de nós mesmos: para o lugar onde não ousaremos as palavras inúteis. Escuto-as. Origem sem regresso." Rui Machado,
As Palavras As palavras passam através de mim, intactas, verdadeiras, naturais, puras. Nada lhes amplio ou suavizo, nada lhes acrescento ou retiro. Sou como um leito encoberto, profundo e triste, por onde o rio das palavras, imenso, cintilante e alegre segue. As palavras s?o para mim águas cristalinas e diáfanas. S?o a mais simples das fórmulas químicas, composta por pequenos átomos perceptíveis que s?o as letras. Os sons resultam do percurso espontâneo deste rio, dos ruídos animados dos salpicos e gotículas que embatem nas rochas que s?o os meus pensamentos. Este rio interminável, de palavras que correm e escorrem através de mim, encontra a foz numa página vazia, num ecr? em branco, numa lousa negra, num discurso cheio… E assim, o mar deste meu rio de palavras é todo o mundo que sou e todo o mundo que crio, em todo o mundo que vivo, todos os dias.
Ampulheta Os gr?os de areia branca caem lentamente... marcam um tempo que ainda n?o sei. Por isso, é o tempo que eu quiser que seja: é todo o tempo do mundo.
Texto de Abertura "O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a aus?ncia de tudo, os homens abst?m-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilus?o de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes." Mia Couto, em Vozes Anoitecidas
Os Versos Que Te Fiz Deixa dizer-te os lindos versos raros Que a minha boca tem p'ra te dizer! S?o talhados em mármore de Páros Cinzelados por mim p'ra te oferecer. T?m dol?ncias de veludos caros, S?o como sedas pálidas a arder... Deixa dizer-te os lindos versos raros Que foram feitos p'ra te endoidecer! Mas, meu Amor, eu n?o t'os digo ainda... Que a boca da mulher é sempre linda Se dentro guarda um verso que n?o diz! Amo-te tanto! E nunca te beijei... E nesse beijo, Amor, que eu te n?o dei Guardo os versos mais lindos que te fiz! Florbela Espanca
Imagine Imagine there's no heaven, It's easy if you try, No hell below us, Above us only sky Imagine all the people Living for today... Imagine there's no countries, It isn't hard to do, Nothing to kill or die for, No religion too Imagine all the people Living life in peace... You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one, I hope some day you'll join us, And the world will be as one Imagine no possesions, I wonder if you can, No need for greed or hunger, A brotherhood of man, imagine all the people Sharing all the world... You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one, I hope some day you'll join us, And the world will live as one Jonh Lennon Um tributo ao momento mais comovente do dia de ontem, no Rock in Rio .
Apontamento A minha alma partiu-se como um vaso vazio. Caiu pela escada excessivamente abaixo. Caiu das m?os da criada descuidada. Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso. Asneira? Impossível? Sei lá! Tenho mais sensaç?es do que tinha quando me sentia eu. Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir. Fiz barulho na queda como um vaso que se partia. Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada. E fitam os cacos que a criada deles fez de mim. N?o se zanguem com ela. S?o tolerantes com ela. O que era eu um vaso vazio? Olham os cacos absurdamente conscientes, Mas conscientes de si mesmos, n?o conscientes deles. Olham e sorriem. Sorriem tolerantes ? criada involuntária. Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas. Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros. A minha obra? A minha alma principal? A minha vida? Um caco. E os deuses olham-no especialmente, pois n?o sabem por que ficou ali. Álvar
Sem título "N?o sei de onde vim, nem porque vim, nem porque irei para onde vou. Só sei que aqui estou... se é que estou." António Leite
O acendedor de lampiões De tanto bater à porta Da noite que à noite cai, Ninguém com ele se importa Nas ruas por onde vai. De volta a casa, não diz Como aprendeu a acender Estrelas que o fazem feliz Porque não querem morrer. Vergílio Alberto Vieira, do livro inédito Para Chegar a Uma Estrela in Revista defacto , n.º12, Maio 2004
Cidade Oculta O guarda-fatos é uma rua perdida num beco da memória, o tapete é um qualquer rio que ruma ? nascente, a cómoda é um extenso edifício saturado de gente, a transbordar dezenas de cabeças de cada gavet?o. A cama move-se velozmente, fintando as grossas gotas de chuva que reflectem luzes. Laranja, vermelho, amarelo, branco... Escuro.
O primeiro dia A principio é simples, anda-se sozinho Passa-se nas ruas bem devagarinho Está-se bem no sil?ncio e no burburinho Bebe-se as certezas num copo de vinho E vem-nos ? memória uma frase batida Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo Diz-se do passado, que está moribundo Bebe-se o alento num copo sem fundo E vem-nos ? memória uma frase batida Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida E é ent?o que amigos nos oferecem leito Entra-se cansado e sai-se refeito Luta-se por tudo o que se leva a peito Bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito E vem-nos ? memória uma frase batida Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida Depois vem cansaços e o corpo fraqueja Olha-se para dentro e já pouco sobeja Pede-se descanso, por curto que seja Apagam-se duvidas num mar de cerveja E vem-nos ? memória uma frase batida Hoje é o primeiro dia d
Ser Poeta Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E năo saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhăs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizę-lo cantando a toda a gente! Florbela Espanca (Recordaçőes da noite de ontem , ao som de Luís Represas...)
do lado do vento rochas marés de espuma gaivotas entre a bruma o vento sopra de norte nesta agitaçăo procuro ler da fala a ondulaçăo Ivo Machado, em Adágios de Benquerença
Azul ŕs vezes apenas uma gota de água sobre as rosas faz o perfume. năo perguntes porquę pois as rosas năo hăo-de responder-te. observa. depois respira o aroma do azul. Ivo Machado, em Adágios de Benquerença , das Ediçőes Salamandra
Contradiçőes Uma história de contradiçőes. Acho que todas as estórias, de uma maneira ou de outra, se contradizem. Mas, por agora, năo faço nada.
Maio Maduro Maio Maio maduro Maio Quem te pintou Quem te quebrou o encanto Nunca te amou Raiava o Sol já no Sul E uma falua vinha Lá de Istambul Sempre depois da sesta Chamando as flores Era o dia da festa Maio de amores Era o dia de cantar E uma falua andava Ao longe a varar Maio com meu amigo Quem dera já Sempre depois do trigo Se cantará Qu'importa a fúria do mar Que a voz năo te esmoreça Vamos lutar Numa rua comprida El-rei pastor Vende o soro da vida Que mata a dor Venham ver, Maio nasceu Que a voz năo te esmoreça A turba rompeu Zeca Afonso
Presenças Uma grande presença cheia de nadas é muito mais custosa que uma aus?ncia composta por tudo.
Somos Livres Ontem apenas fomos a voz sufocada dum povo a dizer năo quero; fomos os bobos-do-rei mastigando desespero. Ontem apenas fomos o povo a chorar na sarjeta dos que, ŕ força, ultrajaram e venderam esta terra, hoje nossa. Uma gaivota voava, voava, assas de vento, coraçăo de mar. Como ela, somos livres, somos livres de voar. Uma papoila crescia, crescia, grito vermelho num campo qualquer. Como ela somos livres, somos livres de crescer. Uma criança dizia, dizia "quando for grande năo vou combater". Como ela, somos livres, somos livres de dizer. Somos um povo que cerra fileiras, parte ŕ conquista do păo e da paz. Somos livres, somos livres, năo voltaremos atrás . Ermelinda Duarte
As portas que Abril abriu (...) E se esse poder um dia o quiser roubar alguém năo fica na burguesia volta ŕ barriga da măe! Volta ŕ barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu! José Carlos Ary dos Santos Lisboa, Julho-Agosto de 1975
Năo há machado que corte Năo há machado que corte a raiz ao pensamento Năo há morte para o vento Năo há morte Se ao morrer o coraçăo Morresse a luz que lhe é querida Sem razăo seria a vida Sem razăo Nada apaga a luza que vive Num amor num pensamento Porque é livre como o vento Porque é livre António Gedeăo
O Voo da Serpente II A encomendaçăo das almas inclina-os para a frente. Nada levam de seu para o périplo turístico. Vergílio Alberto Vieira, em O Voo da Serpente , do Campo de Letras
Tonight, I ask... Who could call my name without regretting? Who could promise to never destroy me? Katatonia - Tonight's Music Last Fair Deal Gone Down, 2001
lento leve lento leve noto os membros anteriores transformarem-se em asas o corpo cobrir-se de penas e a boca terminar em bico e vou desenhar a seqüęncia de movimento do voo de umha ave com os braços estendidos ŕ janela do meu quarto bato bato cadencioso ao borda deste abismo voluntário e grato e basta um impulso breve com as pernas para elevar-me mas... qual ave hei de ser antes de mergulhar no ar... nom é, contudo, isso saber fundamental perseguir os perfis das asas do aviom desde estas dunas em delta em flecha ou supersónicas lá em cima para lograr talvez ser tam só um aeróbata feliz no tempo em que os aeróbatas passaram já de moda... Carlos Quiroga, em A Espera Crepuscular (Viagem ao Cabo Nom) , das Ediçőes Quasi
Tempos O tempo existe, é real, é presente, é agora, é já! O tempo é vivo, é móbil, é estranho, é só! O tempo corre em horas mortas, tenebrosas, perde-se em horas vivas, alegres, encontra-se em horas plácidas, estáticas.
Estranheza Ao fim da tarde há andorinhas que tentam entrar pelas janelas entreabertas. Tudo aqui é diferente. Tudo é bizarro. Tudo é mais do que deveria ser. Tudo deixou de ser. Tudo deixou de estar. E acordo em mim, ainda com os olhos fechados...
Casa... Quando chegávamos, enfim, eram as paredes gastas revestidas a papel florido, tingido a tabaco. Eram as violetas na sala, as rosas nos quartos, os malmequeres na entrada, as tulipas no corredor... Era o chăo execrável, as casas de banho rosa e azul e verde e lilás e vermelho... Era o arco-íris cínico da casa há muito morta.
Medo (...)Năo somos robôs nem pedras falantes, senhor agente, disse a mulher, em toda a verdade humana há sempre algo de angustioso, de aflito, nós somos, e năo estou a referir-me simplesmente ŕ fragilidade da vida, somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo (...) José Saramago em Ensaio sobre a Lucidez (p.58)
Céptica O tempo futuro é nada. É năo saber, năo ver, năo sentir, năo cheirar, năo saborear. É nada. Nem vazio chega a ser. E năo tem cor. É uma invençăo. E uma invençăo improvável até. Alguem viu o futuro? Alguém sabe o que esperar? Entăo năo me enganem! Năo existe.
Mais uma vez... Fecham-se os dedos donde corre a esperança Toldam-se os olhos donde corre a vida. Porquę esperar, porquę, se năo se alcança Mais do que a angústia que nos é devida? Antes aproveitar a nossa herança De intençőes e palavras proibidas. Antes rirmos do anjo, cuja lança Nos expulsa da terra prometida. Antes sofrer a raiva e o sarcasmo, Antes o olhar que peca, a măo que rouba, O gesto que estrangula, a voz que grita. Antes viver do que morrer no pasmo Do nada que nos surge e nos devora, Do monstro que inventámos e nos fita. Ary dos Santos
Nocturno: Eram, na rua, passos de mulher. Era o meu coração que os soletrava. Era, na jarra, além do malmequer, espectral o espinho de uma rosa brava... Era, no copo, além do gim, o gelo; além do gelo, a roda de limão... Era a mão de ninguém no meu cabelo. Era a noite mais quente deste verão. Era no gira-discos, o Martirio de São Sebastião, de Debussy.... Era, na jarra, de repente, um lirio! Era a certeza de ficar sem ti. Era o ladrar dos cães na vizinhança. Era, na sombra, um choro de criança... David Mourão-Ferreira
Lisbon Revisited (1923) Năo: năo quero nada. Já disse que năo quero nada. Năo me venham com conclusőes! A única conclusăo é morrer. Năo me tragam estéticas! Năo me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica! Năo me apregoem sistemas completos, năo me enfileirem conquistas Das cięncias (das cięncias, Deus meu, das cięncias!) - Das cięncias, das artes, da civilizaçăo moderna! Que mal fiz eu aos deuses todos? Se tęm a verdade, guardem-na! Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso sou doido, com todo o direito a sę-lo. Com todo o direito a sę-lo, ouviram? Năo me macem, por amor de Deus! Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham pacięncia! Văo para o diabo sem mim, Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que havemos de ir juntos? Năo me peguem no braço! Năo gosto que m
Estrela da tarde Eu năo sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto! Ary dos Santos
O Deus das Pequenas Coisas As pessoas habituaram-se a vę-lo na estrada. Um homem bem vestido caminhando calado. A sua face tornou-se tisnada. Áspera. Enrugada pelo sol. Começou a parecer mais sábio do que realmente era. Como um pescador na cidade. Com segredos marinhos dentro de si. Arundhati Roy
Receita para fazer um herói Tome-se um homem, Feito de nada, como nós, E em tamanho natural. Embeba-se-lhe a carne, Lentamente, Duma certeza aguda, irracional, Intensa como o ódio ou como a fome. Depois, perto do fim, Agite-se um pendăo Toque-se um clarim. Serve-se morto. Reinaldo Ferreira
Dúvida lexical Porque é que, por mais que procuremos no fundo do Baú pelas palavras certas, quando precisamos delas elas se enrolam na mente?
Mulher sentada ŕ espera da morte "Aproximei-me, devagar, e perguntei-lhe se queria que a ajudasse a atravessar. Que năo, respondeu. Que tinha tempo, muito, muito tempo, e que ninguém a esperava em casa a năo ser uma velha cadeira de baloiço onde costumava sentar-se ŕ espera da morte." José Abílio Coelho, in "O Homem que apanhava almas" O meu mais recente 'livro de cabeceira'... vai-se revelando devagarinho, a cada palavra, a cada pensamento, a cada vida...
Acordar Tenho medo de acordar e năo saber onde estou... Tenho medo de acordar e năo ser eu, ser outra pessoa qualquer, năo ter identidade, sair de mim, estar só de novo... sem passado nem presente... Ter apenas um medo atroz do futuro. A noite continua a parecer-me o fim. O fim de tudo. Arrasta uma dor imensa do recomeçar, do partir, do nada, do reconstruir... de uma nova vida.
Do outro lado do espelho Consegue ver as diferenças entre si e o seu reflexo no lago? Consegue descobrir qual dos dois é vocę? Eu nunca consegui. Por mais que olhe, por mais que tente... Săo dois eus tăo iguais que năo sei em que mundo vivo... Se em terra se no lago. Passa-se o mesmo com o espelho. Sabe que é exactamente este outro eu que lá me aparece? Năo compreendo... Um excerto do conto com o mesmo nome...
Persiana Num fim da tarde igual a muitos outros, abri o que restava da persiana entreaberta do quarto. E a luminosidade tornou-se incomparavelmente maior aqui dentro. Poderemos alguma vez abrir assim a persiana da alma?
Reincidęncia /144/ A literatura, como toda a arte, é muito estranha: quando a amamos (cultivando-a), volta-nos as costas. Se nos despedimos dela, vem ter connosco... Outra vez? Porra! Sebastiăo Alba Albas , das Ediçőes quasi...
Génese Só porque as fontes se deram as măos E as montanhas foram dóceis A esse gesto menino, Nasceram os rios E porque os rios correram Como se corre a brincar, Nasceu o mar. E porque o mar Se fez imensidăo Povoada de medos e sereias, Nasceram as caravelas. E logo embarcaram nelas Vates e marinheiros ŕs măos cheias. Cláudio Lima Finalmente consigo ter o Vate DO Reino nas minhas măos... Recomenda-se vivamente... e é só deslocar-se à banca da editora Ausęncia na Feira do Livro de Braga
Palavras em Férias: O Palavras em Férias é um blog amigo do Baú, homónimo nas "Palavras", que anuncia o seu fim. Espero que mais não seja que uma confusão de palavras...
Vazio... Uma espécie de vida, uma espécie de morte. Um símbolo de dor, novidade, vazio... Vazio lento e dolente, mas agitado como um turbilhăo de ideias que fere a própria razăo. No fundo é um buraco, um poço profundo, extenso, aterrorizante, e que o atrai magneticamente, incontrolavelmente, para o abismo do ser. E depois a escrita! Ah, a escrita! A folha despojada que olha de relance, receoso. Aquela imensidăo de branco imaculado que aterroriza e causa mágoa na essęncia do ser que, no fundo, năo é. O medo de aceitar a ideia de vazio, o năo querer enfrentar o buraco que o consome a pouco e pouco, que o enche de um nada. Um nada que é forte, duro, invencível e fantasmagoricamente grande...
Do outro lado do espelho Digo-te só que espero. Houve um tempo em que, para mim, esperar foi uma espécie de arte. (esperar por tudo: pela manhă, pela noite, pelo carteiro, pelo natal, pelos amigos... esperar só porque era bom esperar, porque fomentava pacięncia, porque era divino, porque era uma luta, porque implicava um qualquer objectivo) Agora espero sem arte, espero sem sentir qualquer alegria em fazę-lo. É mais fácil assim, deixar tudo suceder-se... Sem ninguém, sem nada me notar.
Hoje sou assim... Com bandarilhas de esperança afugentamos a fera estamos na praça da Primavera. Nós vamos pegar o mundo pelos cornos da desgraça e fazermos da tristeza graça. Tourada , Ary dos Santos
Sons do Sol Subitamente lembro tantas coisas diferentes, desligadas, desabituais. Cheiro café, maresia, algodăo doce. Vejo movimento, dança, vida, correria. Oiço música, vento, mar. Saboreio chocolate, menta, bolacha. Sinto calor, alegria, paz. Tudo porque hoje acordei com os sons do sol. Tudo porque abri os olhos e vi um chilrear rosa pálido a esgueirar-se pela janela. Tudo porque um latido azul forte e esquivo conseguiu passar pela frincha da porta...
Escuro Acordava a meio da noite assustada, calada, sufocada pelo silęncio que năo era nosso. Levantava-me e as esquinas barravam-me o caminho, a sala tinha-se mudado para a cozinha, as sombras disformes e atrozes moviam portas no escuro...
Cavalo à Solta Em ti respiro em ti eu provo por ti consigo esta força que de novo em ti persigo em ti percorro cavalo à solta pela margem do teu corpo. Ary dos Santos (com Fernando Tordo) Porque já não se fazem canções assim... E porque eu tenho saudades.
Submersa Toco no alumínio da janela. Frio. Fecho os olhos e sinto de novo as águas gélidas a avassalarem-me. Sinto sal nos cabelos, na cara, nas pernas, na barriga. Há coisas do mar por todo o lado. As algas prendem-me as pernas, as estrelas puxam-me os cabelos. Vejo mal e vejo tudo verde, tudo opaco, tudo salgado. Quero ir embora, agora. E estou submersa.
Ŕs vezes estamos, năo vivemos Ŕs vezes estamos, năo vivemos. A alma dissocia-se do corpo, desvanece-se em pensamentos, tristezas e reflexőes sobre uma vida que nem sempre dá o que nós queremos. Ŕs vezes estamos, năo vivemos. Porque năo prestamos atençăo a nada, vivemos apenas numa dimensăo que nós próprios criamos e na qual sentimos que podíamos ficar para sempre. Estamos ali, vemos, ouvimos, percebemos, mas năo estamos ali. Estamos simplesmente, năo vivemos. Ŕs vezes estamos, năo vivemos. Hoje é um desses dias, em que estou mas năo vivo.
Regresso Respirar. Suspirar. Não pensar. Sentir. Sentir a pressão do corpo na cama estática. Esquecer a cidade. Esquecer a luz falsa, a agitação, a chuva, as pessoas, o mundo todo.
Suspiro... "(...) Não me satisfazendo o mundo, era sempre possível usar da imaginação para melhorá-lo. Não será o mundo afinal coisa minha?, não o trago porventura no meu cérebro?, não existirá apenas enquanto as minhas sensações existirem?, não desaparecerá comigo quando eu desaparecer? Assim, miúdo, propus-me fazer da gélida insatisfação um cálido frémito de luz, das minhas prolongadas mágoas e fugazes alegrias um cacho de histórias que desse algum sentido ao quotidiano, que me soltasse a alma. Os Putos são o resultado desse anseio. (...)" Altino do Tojal Pudesse eu sentir sempre o que sinto de cada vez que saboreio palavras de Altino do Tojal... É perante esta simples e pura beleza que acredito que tudo é possível... Até mesmo... Isso.
Tristeza Invadiu-me, pé ante pé. Minto, foi arrasadora a sua chegada. Rápida, doentia e eficiente, assaltou-me e confundiu-me o pensamento, agonizando por outro lado o coraçăo. A alegria está ali, bem perto, mas năo vejo o caminho. Sinto-me no meio do pântano, ŕ procura de algo, da ponte ou da jangada salvadora. Mas sei que a jangada nunca chegará, e que a ponte está longe para ser construída. Era pedir demais para um ser fútil como eu.
Ora bem... Năo tenho muito jeito nem para despedidas nem para entradas de rompante. Por isso, digo apenas que espero contribuir para a qualidade que este blog já demonstrava sem a minha presença. Obrigado Jack e Calisto. Muito mesmo. Prometo que darei o meu melhor.
Excerto Todos os dias ao acordar pergunto-me o que irei ver. Antes de abrir os olhos passam mil e uma ideias, mil e uma imagens pela minha cabeça. Quando finalmente consigo, a custo, descerrar as pálpebras e encontro os ténues raios de luz perdidos pelo quarto... suspiro de alívio. Excerto de escritos perdidos nas gavetas... nas minhas gavetas.
Sonho Sonho. Não sei quem sou neste momento. Durmo sentindo-me. Na hora calma Meu pensamento esquece o pensamento,             Minha alma não tem alma. Se existo, é um erro eu o saber. Se acordo Parece que erro. Sinto que não sei. Nada quero nem tenho nem recordo.             Não tenho ser nem lei. Lapso da consciência entre ilusões, Fantasmas me limitam e me contêm. Dorme insciente de alheios corações,             Coração de ninguém. Fernando Pessoa
Interrogações... "E como de costume vais passar e perguntar-me Como estão os teus olhos, hoje?" Rui Machado E como de costume dissipar-me-ei em palavras. Mais do que em palavras, em emoções, em incertezas, em artifícios, em penas, em destinos. Os meus olhos? Não sei.
Da História, da Esperança e do Presente Despi-me de ti. Desabotoei a camisa ( da história ), descalcei as botas ( da esperança ) e desapertei as calças ( do presente ). Despi-me de ti. Descansei de nós ( da história ), desmontei o puzzle ( da esperança ) e descobri o eu ( do presente ). Despi-me de ti. Descubro-me na magia ( da história ), despeço-me nua ( da esperança ) e desdobro-me na vida ( do presente ).
Mudar... Quero salgar o mundo. Salgar a vida. Arder, cortar, ferir, ofender, lacerar, pungir. Sentir dor. Salgar-me. Acabar. Apagar e recomeçar. Ou começar, apenas... Sem memória. Desejos que se... dissipam, dissolvem e dissimulam... Na água fresca das manhăs.
Aos amigos Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, com os livros atrás a arder para toda a eternidade. Não os chamo, e eles voltam-se profundamente dentro do fogo. -Temos um talento doloroso e obscuro. construímos um lugar de silêncio. De paixão. Herberto Helder
A Luxúria Nós amamos a carne das palavras sua humana e pastosa consistęncia seu prepúcio sonoro sua erecta presença. Com elas violentamos o cerne do silęncio. Ary dos Santos in As sete virtudes filosofais ou A alquimia dos poetas
Nada... ou năo ? Nada. Năo quero nada. E ao mesmo tempo tudo... Julgo que choro o que năo sou. Perdi-me nas memórias do que nunca serei, do que já năo quero ser... do impossível. Hoje, o "năo" é a minha palavra de eleiçăo. É o que sinto. É mais do que a negaçăo. Mais do que o símbolo n . É um NĂO. E é meu. É sentido. É vivido. É a perda do que nunca há-de chegar... Sou eu... Năo...
Ou simplesmente... ...