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Mensagens

A mostrar mensagens de 2003
Reloj "Todas as noites me despeço de mim. O dorso afunda-se. O bulício, os relógios prosseguem por fora. Nenhum antegosto ou prelúdio do fim. Minha energia aflui, reúne-me? Na órbita do sono, some-se e resplandece a máscara mortuária." Sebastiăo Alba
Carlos Pinto Coelho Pois Acontece em Portugal. (Um especial agradecimento ao sr. Morais Sarmento por permitir que este Sr. tenha mais tempo em mãos...) Podem ver mais [aqui] .
Natal Nasce um Deus. Outros morrem. A Verdade Nem veio nem se foi: o Erro mudou. Temos agora uma outra Eternidade, E era sempre melhor o que passou. Cega, a Cięncia a inútil gleba lavra. Louca, a Fé vive o sonho do seu culto. Um novo deus é só uma palavra. Năo procures nem creias: tudo é oculto. Fernando Pessoa Votos de um Feliz Natal para todos!
Ruídos Cheguei a casa ŕs quatro da madrugada. Pela primeira vez em muito tempo fui capaz de ouvir os meus barulhos, os barulhos da rua, os barulhos da noite... sem mais. Há a porta do carro a fechar, o gato a correr no jardim, os minúsculos pingos de chuva a tocarem o gradeamento, o vento nas folhas das árvores, os passos arrastados de quem chega cansado... Acho que posso dizer que vi , pela primeira vez, os ruídos...
Chocolates... Encontrei numa das revistas das boas recordaçőes um dos meus poemas favoritos: "Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que năo há mais metafísica no mundo senăo chocolates. Olha que as religiőes todas năo ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!" Álvaro de Campos (de Tabacaria ) Năo pude deixar de sorrir ao lembrar quem mo declamou, num restaurante, com o copo de vinho numa măo, o cigarro na outra... Năo pude deixar de recordar uma outra pessoa presente, com o sorriso do tamanho do mundo, com o abraço do tamanho do conforto... Năo pude deixar de me sentir pequena de novo, como me senti na altura, como me sinto agora que recordo o episódio... Subitamente tenho vontade de comer chocolates... Assim só... com toda a verdade do mundo...
Palavras Hoje năo tenho palavras para oferecer ao baú. Hoje as recordaçőes envolveram-se, pé ante pé, no meu sono, sonho, acordar, viver... ser. Hoje as acçőes chegaram e partiram sós, sublimes, sistemáticas, sorrateiras. Hoje os sentimentos foram mais do que as palavras. Talvez assim, tu compreendas melhor porque é que este baú é preenchido de palavras de outrém que năo eu; às vezes, as palavras que năo temos, vivem e inflamam mesmo numa outra boca, numa outra caneta, numa outra alma.
O tempo O tempo existe, é real, é presente, é agora, é já! O tempo é vivo, é móbil, é estranho, é só! O tempo corre em horas mortas, tenebrosas, perde-se em horas vivas, alegres, encontra-se em horas plácidas, estáticas. Descansa ao pôr do sol, quebra-se na luz, sorri na penumbra, diverte-se na noite. O tempo é criança, é adulto, é idoso... Existe aqui, ali, além. Acompanha-nos, persegue-nos, foge-nos. O tempo acredita-nos, ilumina-nos... Traz tudo, vive em tudo, é cada coisa, cada palavra, cada imagem! O tempo vagueia perdido pelas ruas da memória. Brinca com a vida, joga com os sonhos, rouba-nos o sono e presenteia-nos com a esperança. Hoje descobri: afinal o tempo existe, afinal é real.
Sobre um Poema Um poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou sombra de sangue pelos canais do ser. Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol. Fora, os corpos genuínos e inalteráveis do nosso amor, os rios, a grande paz exterior das coisas, as folhas dormindo o silêncio, as sementes à beira do vento, - a hora teatral da posse. E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. E já nenhum poder destrói o poema. Insustentável, único, invade as órbitas, a face amorfa das paredes, a miséria dos minutos, a força sustida das coisas, a redonda e livre harmonia do mundo. - Em baixo o instrumento perplexo ignora a espinha do mistério. - E o poema faz-se contra o tempo e a carne. Herberto Helder
A que passa. Que se abram os chãos e se afastem os vermes porque ela passa. Ela passa porquê? Porque passa ela no tapete conformado da natureza? Ela passa porque vai. Passa mas não regressa. Ela passa porque é nossa, é de todos princípio, meio e finda. (A poesia não tem de ser bela por dizer coisas belas, a poesia é bela por ter significados. Um grande beijo, Jack * Elo. )
Abri o baú das palavras escritas no passado... Uma dor, dor de nada. Absurda, ridícula, irracional, inexplicável dor de nada! A rendiçăo... Passa suavemente as măos pelo teclado frio e começa a escrever. Palavras soltas, rimas trocadas, prosas incertas, sequęncias racionais de pensamentos sentidos na alma! Eis o final – mais uma sequęncia ilógica e desagrupada de poemas da madrugada. Um novo cigarro e de novo a brisa gélida da madrugada de Dezembro...
Way to blue... "Tell me all that you may know Show me what you have to show Won't you come and say If you know the way to blue?" Mais uma vez perdida nas músicas de Nick Drake...
Para ser grande Para ser grande, sę inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sę todo em cada coisa. Pőe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a Lua toda brilha, porque alta vive. Ricardo Reis
Para ti... "Please tell me your second name Please play me your second game I've fallen so far For the people you are I just need your star for a day." Um pouco da música Fly do Nick Drake...
Poeta DA Rua (assim com maiúsculas e tudo) Sebastiăo Alba, poeta andarilho , nascido a 11 de Março de 1940, viveu os últimos anos na rua por opcçăo. Por companhia os poemas, o tabaco, o álcool e os inúmeros seguidores da obra... Um dia, saindo eu da escola falou comigo. Năo me recordo exactamente o que me disse, mas era certamente poesia - sempre foi esse o mote nas raras vezes em que a ele a mim se dirigia. Na manhă 14 de Outubro de 2000, foi atropelado mortalmente por um condutor que se pôs em fuga, em Braga. A 7 de Outubro, num bilhete quase premonitório ao amigo Vergílio Alberto Vieira escrevia: «Se um dia encontrarem morto "o teu irmăo Dinis", o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia năo entenderá.» Sebastiăo Alba 11.03.1940 a 14.10.2000 há poetas com musa. Muitos. Há poetas com musa. Muitos. Eu, neste jardim do Éden, a cargo do município, onde um velho destece a sua vida e, baixand
O amanhă... "Foi nessa tarde que aconteceu ter-me percebido no futuro. Tinha a idade dos pássaros nos dias de poesia, tinha a noite arrumada em personagens incertas. Cuidava dos perigos com carinho, lavado e de barba feita. Viajante de mim." Fica aqui este excerto de um texto de Miguel Duarte Soares , enquanto procuro perceber-me a mim, no futuro...
Fim de Poema Para que nem tudo vos seja sonegado, cultivai a surdina. Eu fico em surdina. Em surdina aparo os utensílios, em surdina me preparo para morrer. Amo, chut!, em surdina; a minha vida, nesga entre dois ponteiros, fecha-se em surdina. Sebastiăo Alba
Percalços... Tenho uma consulta marcada para as 16:30... Eu: transparente. Ela: olhos fixos num ponto qualquer para além de mim. Tem que esperar. A doutora chegou tarde. Nem mais. Chegou tarde. Eu espero. Eu, transparente, invisível... espero. Pela doutora que chegou tarde. Mais um impasse na minha vida, mais minutos perdidos, desperdiçados... quem sabe se serăo antes horas? Horas que poderiam ser úteis, poderiam fazer falta, poderiam ser minhas! Mas năo. Espero. Săo horas da doutora. Chegou tarde. Tem que esperar. Năo podemos fazer nada. Espero. Desespero. Desperto e nada. Vazio... Só a espera e eu. A sala cheia de gente e eu. Como eu, a esperar. Sem mais. Espera, insiste, acredita. Chegou tarde. Percalços no caminho. Esperas na estrada. E eu, transparente, espero.
Arte Poética 1. Chega a măo a escrever negro chega onde escreve chega onde chega a escrever năo 2. Chega ou năo a escrever năo chega onde chega escreve onde a negro escreve a măo 3. Chega em văo a escrever negro escreve onde chega quando escreve escreve năo 4. Chega entăo a escrever năo chega negro a escrever măo escreve escreve escreva ou năo. de Vergílio Alberto Vieira, em "O voo da serpente"... a năo perder...
Tempo "O tempo vai aproximando as coisas. Olho para uma árvore. É um álamo, a bétula onde procuro o princípio da floresta... Năo importa! A esta hora inicio a cor e o silęncio da terra. A música năo difere muito do que do que ando a ver. O dia parece ter pressa, mas a luz năo incomoda. Uma floresta inicial lembra o sistema do universo. As leis convergem no império das cores. É lento o castanho, o ocre, o anil. A folha dá sinal. Vai cair. Quem vem demorar o seu olhar?" de José Miguel Braga, o meu mestre...
Chuva As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade Só as lembranças que doem ou fazem sorrir Há gente que fica na história na história da gente E outras de quem nem o nome lembramos ouvir São emoções que dão vida à saudade que trago Aquelas que tive contigo e acabei por perder Há dias que marcam a alma e a vida da gente e aquele em que tu me deixaste não posso esquecer A chuva molhava-me o rosto gelado e cansado As ruas que a cidade tinha já eu percorrera Ai... o meu choro de moça perdida gritava à cidade Que o fogo do amor sob a chuva há instantes morrera A chuva ouviu e calou o meu segredo à cidade E eis que ela bate no vidro trazendo a saudade A chuva molhava-me o rosto gelado e cansado As ruas que a cidade tinha já eu percorrera Ai... o meu choro de moça perdida gritava à cidade Que o fogo do amor sob a chuva há instantes morrera A chuva ouviu e calou o meu segredo à cidade E eis que ela b
Alguém se lembra? I'll now read the traditional opening message by society member Henry David Thoreau: "I went to the woods because I wanted to live deliberately. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life. To put to rout all that was not life, and not, when I had come to die, discover that I had not lived." Carpe, carpe diem, seize the day boys, make your lives extraordinary.
Intocável Choro. Perdi-me de ti. Perdi-me do mundo. Perdi-me de mim. Hoje as cores săo diferentes, a rua é diferente. Todo o mundo mudou. Penso. Repenso. Medito. Choro. Sem lágrimas. Sem sal. Choro. Năo sei onde estou. A vida é algo para além de mim. Para além de nós. Intocável.
"Se podes olhar, vę. Se podes ver, repara." "Os que encontram significaçőes torpes nas coisas belas săo corruptos e sem seduçăo, o que é um defeito. Os que encontram significaçőes belas nas coisas belas săo os cultos. Para esses há esperança. Eleitos săo aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza." Oscar Wilde in "O Retrato de Dorian Gray"
Gritos mudos... (Retirado d'a caixa-de-chocolate da BuBbLeS )
Hoje o tempo parou... Hoje năo chove. Hoje năo está sol. Hoje năo há vento. Hoje o tempo parou. Hoje năo está frio. Hoje năo está calor. Hoje o tempo parou. Hoje o céu năo está azul. Hoje năo está negro. Hoje năo está branco. Hoje o tempo parou. Hoje os relógios marcam os segundos, os minutos, as horas. Hoje as horas, os minutos e os segundos passam deixando tudo parado. Hoje os troncos despidos das árvores năo rangem. Hoje as folhas caídas năo se elevam em turbilhőes de vento. Hoje o tempo parou. Hoje pensamos. Hoje acordamos. Hoje vivemos...e o tempo parou. Hoje os carros passam, as pessoas correm, as vozes soam...e o tempo parou. Hoje conhecemos. Hoje sabemos. Hoje sentimos, somos, cremos, agimos, vemos, sorrimos! E hoje o tempo parou! Hoje há calma. Há calma, há sossego, há saudade, há melancolia, há equilíbrio, há paz...há vida! Hoje há movimento, há dinâmica, há jogo... Hoje o tempo parou... O tempo parou e conseguimos ver, sentir...conseguimos por fim chegar a t
Que Futuro? O tempo passa devagar... só agora que a minha vida parou, tive tempo para notá-lo. Estou velha. Tenho na minha măo o relógio de bolso que o meu António costumava usar. Estava parado. Estava parado há já vinte anos, desde que aquela doença o levou. Deixou-me aqui só. Que futuro? Pensei entăo... Que futuro? Imaginei... Que futuro? Pensei ao acordar no dia seguinte, naquela cama vazia e gelada. Que futuro? Sussurrei enquanto descascava as batatas, fingindo que era um dia como qualquer outro, fingindo que ele năo tardava em chegar. Que futuro? Que futuro, a olhar para as minhas faces envelhecidas já entăo, aos cinquenta e sete anos. Que futuro, chorei ao ver este mesmo relógio prateado em cima da cómoda, parado... já năo se ouve o tic tac... O tic tac do teu coraçăo... Passaram vinte anos, e que futuro? Que futuro, que sonho, que ilusăo, que vida... năo sei. Passaram vinte anos e estou aqui. Passaram vinte anos e finalmente sou capaz de ouvir o tic tac
O meu amigo Caeiro Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade. Mas, como a realidade pensada năo é a dita mas a pensada, Assim a mesma dita realidade existe, năo o ser pensada. Assim tudo o que existe, simplesmente existe. O resto é uma espécie de sono que temos, Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença. Alberto Caeiro, 1-10-1917