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A mostrar mensagens de agosto 15, 2004
Três sonetos de Deus ausente - 3 Porque Deus, se existisse, era o azul mais azul, a infância que não acaba. Era pai, colo, primavera, mil vezes raiar a mesma madrugada. E no desespero de um fim de tarde, haveria de aspergir sobre nós o seu olhar de infinita bondade, o calor do gesto, o cristal da voz. Tudo, tudo, outra vez seria novo, eterno mesmo só por um minuto: água de lume mais rosa do povo, voz, viagem, Penélope, Ulisses, som de piano, flauta, flor e fruto. Gostava tanto que Tu existisses! José Carlos de Vasconcelos, em Repórter do Coração
Três sonetos de Deus ausente - 2 Gostava tanto que Deus existisse! Como eu havia de ser diferente, pior ou melhor não sei, se o visse, na manhã de neblina persistente, a apanhar conchinhas brancas na praia, como quem apanha nuvens no céu. Seria menina e teria a saia azul, curta, talvez de chita; eu procuraria ajudá-la a encontrar a conchinha mais bonita, depois de ver a espuma das ondas e o ar a bailar como grandes bailarinos. E seríamos felizes os dois, pois ficaríamos sempre meninos. José Carlos de Vasconcelos, em Repórter do Coração
Três sonetos de Deus ausente - 1 Gostava tanto que Deus existisse! Como eu havia de ser diferente, pior ou melhor não sei, se o visse caminhando, humano, entre a gente que vai prò trabalho de madrugada tão pobre, suburbana, gente triste como ela só, e tão desamparada, que sofre, sofre tanto, mas resiste, e regressa a casa noite fechada, sem tempo para os filhos, o amor, nada, nada, semana após semana, gente humilhada, gente perseguida. E Deus ausente, seja onde for, todo o mês, todo o ano, toda a vida. José Carlos de Vasconcelos, em Repórter do Coração
Palavras (talvez) de saudade... Não sei o mundo que és. Não conheço o que trazes, o que tens. Sei apenas que no teu olhar escondes ondas do mar, plantas do bosque... Uma vida que não sei e não nomeio. Para mim, chega a areia do teu corpo, em que me perco, chega a fonte de ti, em que me sacio. O que eu sei me basta. Mesmo quando o que sei é nada.
Póvoa de Varzim Depois de quinze dias passados na Póvoa de Varzim, regresso finalmente a Braga. Para lembrar, fica o prazer indescrití­vel de ouvir o poema seguinte recitado por Aurelino Costa... Lusitânia no Bairro Latino , por António Nobre "2. Georges! anda ver meu paí­s de Marinheiros, O meu paí­s das naus, de esquadras e de frotas! Oh as lanchas dos poveiros A saí­rem a barra, entre ondas e gaivotas! Que estranho é! Fincam o remo na água, até que o remo torça, À espera da maré, Que não tarda hi, avista-se lá fora! E quando a onda vem, fincando-o a toda a força, Clamam todas à uma: «Agora! agora! agora! E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo (Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar...) Que vista admirável! Que lindo! Que lindo! Içam a vela, quando já têm mar: Dá-lhes o Vento e todas, à porfia, Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas, Rosário de velas, que o vento desfia, A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas : Senhora Nagonia! Olha, acolá! Que linda vai com seu erro de