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A mostrar mensagens de março 21, 2010
Jardim Gatos. Gatos bonitos. Anafados. Pêlo brilhante. Olhos fixos. Cinza, preto, branco, malhado. E pássaros. Melros, piscos. Esventrados. Decapitados. Mortos. Sem penas. Sem pio. Bicos laranja numa mancha assimétrica de preto e vermelho. Um rato. Grande, cinzento, imundo. Jaz no alcatrão e funde-se já com ele. Como um desenho de linhas. Um contorno. Como algo que nunca foi. Como uma representação de nada. Uma coisa inexistente. Árvore. E árvores. Uma árvore só. Altiva. longe do chão. Afastada da vida. Dos animais. Das intenções. Das tentativas. Do mundo real. Uma árvore. Que vive de pé. Chuva de pétalas. Rosa e branco sobre o jardim. Rosa e branco sobre os gatos, os pássaros, o rato. Manto de branco e rosa. De beleza, de não-vida, de altivez, de distância, de magia, de encobrimento, de sonho. De vazio. De nada.
A minha rua A minha rua é feita de nada. Candeeiros escuros. Casas fantasma. Ar rarefeito. A minha rua é plena de vazio. Passeios desertos. Árvores ocas. Céu silencioso. A minha rua é debruada a morte. Frutos caídos. Cães inexistentes. Lixo putrefacto. A minha rua é imune à esperança. Quintais estéreis. Alcatrão latejante. Persianas corridas.