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A mostrar mensagens de abril 4, 2004
Casa... Quando chegávamos, enfim, eram as paredes gastas revestidas a papel florido, tingido a tabaco. Eram as violetas na sala, as rosas nos quartos, os malmequeres na entrada, as tulipas no corredor... Era o chăo execrável, as casas de banho rosa e azul e verde e lilás e vermelho... Era o arco-íris cínico da casa há muito morta.
Medo (...)Năo somos robôs nem pedras falantes, senhor agente, disse a mulher, em toda a verdade humana há sempre algo de angustioso, de aflito, nós somos, e năo estou a referir-me simplesmente ŕ fragilidade da vida, somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo (...) José Saramago em Ensaio sobre a Lucidez (p.58)
Céptica O tempo futuro é nada. É năo saber, năo ver, năo sentir, năo cheirar, năo saborear. É nada. Nem vazio chega a ser. E năo tem cor. É uma invençăo. E uma invençăo improvável até. Alguem viu o futuro? Alguém sabe o que esperar? Entăo năo me enganem! Năo existe.
Mais uma vez... Fecham-se os dedos donde corre a esperança Toldam-se os olhos donde corre a vida. Porquę esperar, porquę, se năo se alcança Mais do que a angústia que nos é devida? Antes aproveitar a nossa herança De intençőes e palavras proibidas. Antes rirmos do anjo, cuja lança Nos expulsa da terra prometida. Antes sofrer a raiva e o sarcasmo, Antes o olhar que peca, a măo que rouba, O gesto que estrangula, a voz que grita. Antes viver do que morrer no pasmo Do nada que nos surge e nos devora, Do monstro que inventámos e nos fita. Ary dos Santos